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sábado, setembro 23, 2006

Do clichê 

O texto a seguir foi publicado originalmente como uma correspondência eletrônica. Nota-se nele claramente uma propensão ao jornalismo cultural mais fútil da cena brasileira, bem como traços que, segundo o autor, remetem ao consagrado crítico americano Lester Bangs. A esta última resguardamo-nos ao direito de não comentar para não causar constrangimentos. Resumidamente é uma obra de caráter pessoal, ao modo do meio que utilizamos, o chamado weblog, conhecido como popularmente como blog.

Apesar de tardia, pois todos os meios competentes já fizeram questão (e tinham a obrigação) de realizar a cobertura do evento quase que instantaneamente, optamos por expor tal peça como um devaneio momentâneo de nosso colaborador.

A publicação neste espaço deu-se com as devidas adaptações para que as pessoas envolvidas não se sintam prejudicadas.

Bons negócios a todos

A Diretoria

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Motomix 2006 – cobertura completa ou como ser mané em meio à horda de descolados

Motomix Project Band: Não entendi direito qual era. Tinha uns VJs, o tal do Spettto e um outro lá. Do nada surgem uns descolês do inferno e começam a cantar, rebolar, algo meio electro, meio sem graça, que não me empolgou. Eu não estava muito receptivo e o efeito do álcool havia passado muito rápido. Recebi uma ligação de não sei quem bem no meio da apresentação que eu teimava em ver só para garantir um bom lugar à frente. E sobre o tal Motomix Project Band encerro aqui.

Annie: Cheguei à brilhante conclusão que não é só leste europeu que produz belas fêmeas que podem rechear qualquer produção da Private. A chamada Annie, cujas informações sobre a gaja eu tinha muito pouco, prova que os países nórdicos também escondem muita carne boa por lá. Tipo mignon, vestidinho de putinhas da Augusta, caras e bocas que me deixaram em estado de alerta. Ah, e também teve show. Um DJ, um baterista e ela sussurrando algumas coisas. Também uma coisinha meio electro, meio pop, meio bitch. Quase falei, pega no meu e balança, mas aí seria o cúmulo da pedreiragem. Dancei de maneira cool, como pedia o momento.

Art Brut: Confesso que estava ansioso pelo show da banda inglesa. Sim, sou influenciável e há algum tempo ouço muito o Bang Bang of Rock'n Roll. Ah, vá tomar no cu, o show foi bom pra caralho e ponto. O Eddie Argos é mesmo aquela coisa de contar histórias no meio do show.Ee ainda teve culhões de bem na hora de seu "grande hit", Emily Kane, no momento em que todos queriam contar os anos, dias, meses e segundos que ele não via sua amada, desandou falar sobre não ligar para quem não liga para você e toda aquela coisa que você não sabe se ele estava zoando ou se era sério. Gritei muito, pulei muito, dei uns pipocos, sem querer, na cabeça de uma menininha de São Vicente, tudo parecia correr bem. Até que no final do show, bem no final da Good Weekend, quando falou que os frescos do Cansei de Ser Sexy e o Sepultura eram Top of the Pops, apareceram dois gordos fedidos e começaram a falar merda ao meu lado. Desidratado, com as costas em frangalhos, comecei a pensar que eu iria ficar o resto do show ao lado daqueles caras. Se eles eram tão machos, o que eles faziam num festival cheio de molinhos daquele? Em um daqueles momentos brilhantes de minha vida inócua, comecei a realmente passar mal. Tive que sair da frente e desembolsar 4 reais em uma água de 200 ml. Fui lá pra trás de onde eu vi o show das gazelas escocesas.

Franz Ferdinand: Foi culpa de Gavrilov Princip. Se ele não tivesse enchido de chumbo aquele arquiduque lá em Sarajevo em 1914, dando fim ao Sacro Império Romano-Germânico e início à 1ª Guerra Mundial, talvez eu teria visto o show de uma outra banda. Vai ver é pela sonoridade do nome ou pelo espírito dos anos 2000, essa merda meio que revival dos anos 80, ciente da própria efemeridade. Poderia fazer um tratado sobre nossa época, em um acesso de presunção, suas relações com o mundo fulgaz da moda e as bandas de terninhos, mas deixo meu pedantismo para a FFLCH ou meu suposto pré-projeto de mestrado que nunca sai da gaveta. O fato é que eu, em toda minha masculinidade latino-americana-retirante-caipira, rendi-me aos meninos. De início, lá em 2004, meio que torci o nariz. mas depois comecei a ovir demais e quando meu dava conta estava gritando Take me Out no metrô ou na linha Jaçanã-Cidade Universitária, aos domingos, vindo da casa de minha ex-sogra. O show. Vocês já devem ter lido de tudo, o coro em Walk Away, a efervescência de Do You Want, a batucada em Outsiders e os trocadilhos sobre This Fire. Mas o que me surpreendeu mesmo é que foi realmente um showzão de Rrrrroque, como diria Otácilio Orsi, o popular Tatá. Com direito à quebra de instrumentos no final e tudo. Alguém já deve ter descrito assim, mas foi comunhão total. O pessoal queria ver o Franz Ferdinand e eles queriam tocar. E tocaram com vontade. De onde estava vi legal, apesar de não ser perto. E o som parecia bem mehor que lá na frente. Tá na minha lista de melhores shows que eu já vi. Acho que passou o do Capital Inicial em 93, na Facilpa, fase Dinho Ouro Preto de dreads.

Radio 4: Fiquei sentado no chão tentando localizar algumas bundinhas indies para posterior chinelagem, mas já não tinha forças. Ouvi os primeiros acordes de Emenies Like This, a do clipe e com muito esforço me levantei. O Radio 4 não é ruim. Tem aquel coisa de engajados primeiro-mundistas que não tem mais o que consumir e resolve dar um piperote no sistema. Dancei um pouquinho, me empolguei com outra jam no meio de Dance to the Underground, mas me sentia incomodado. A banda é meio que um pastiche de Gang of Four e Clash, o guitarrista parecia imitar o Mick Jones. Ah, e pra quem tinha visto os tios do Gang of Four há menos de duas semanas, os cabras de NY soavam fake. Mas não foi de todo ruim.

Depois disso fui embora embaixo de um pouco de chuva e travado.